Os alunos da Turma de Questões de Economia e Finanças, realizaram mais uma visita de estudo. O ponto de encontro foi na Unisseixal e às 9:30 h e lá partiram em direção a Sesimbra.
Tiveram um dia em cheio, deslocando-se ao Auditório Conde de Ferreira para a apresentação de uma Palestra com o tema “A Evolução da Pesca e seus impactos económicos no concelho de Sesimbra”. Foi nosso orador o Sr. Vereador José Polido, que nos falou e explicou de uma forma clara e concisa, a história de Sesimbra, a sua ligação ao mar desde os tempos remotos, a arte da pesca utilizada pelos pescadores e a indústria que foi surgindo ao longo dos anos.
O Sr. Vereador José Polido começou por dizer que a vila de Sesimbra abrange três freguesias, que a pesca é, sem dúvida, a matriz da vila e que faz parte da sua história, da sua identidade.
O Porto de Sesimbra abrange:
- Serviços de Apoio Logístico e Administrativo (APSS / Doca Pesca / Polícia Marítima / Associações de Pesca)
- Estaleiros navais
- Oficinas Mecânicas
- Postos de combustível
- Stands, loja de venda de motores
- Fábrica de gelo
- Comerciantes de peixe
- Armazém de Comerciantes e Armadores
- Unidades de transformação – Artesanal Pesca
- Empresas de Animação Turística – com atividades reconhecidas como turismo de natureza (passeios marítimo-turísticos, pesca turística, táxi fluvial ou marítimo, aluguer de embarcações)
- Mergulho – a costa junto ao Cabo Espichel é um dos locais preferidos – 7 escolas
- Marina do Clube Naval – explorada pelo Clube e com muitas atividades marítimo-turísticas ao longo do ano, tais como, vela, mergulho, pesca desportiva de alto mar e mais recentemente canoagem, surf, windsurf e skimboard.
A pesca profissional pode ser:
- Local – a embarcação não excede os 9 m e não pode ir além das 6 milhas;
- Costeira – a embarcação tem mais de 9 m e pesca entre as 9 e as 12 milhas
Foram mostrados alguns quadros/tabelas sobre “Embarcações registadas na Delegação Marítima de Sesimbra” outubro de 2014; sobre “Pescadores matriculados em Sesimbra de 1998 a 2009”; com o “Número de Pescadores matriculados” entre 2010 a 2016; sobre o “Ranking do pescado capturado e vendido nas lotas portuguesas nos anos de 2009 a 2016”. Destes quadros pode-se chegar às seguintes conclusões, entre 1998 e 2001 houve uma grande queda nos pescadores matriculados e só a partir de 2003 aumenta; a pesca do cerco entre 1999 e 2000 diminuiu muito, aumentando muito no ano seguinte; pesca do arrasto também diminuiu muito, assim como a pesca do atum.
Foram também mostrados os quadros sobre “Dez espécies com maior captura em 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016 na Lota de Sesimbra”, que se concluiu, a captura de pescado na lota de Matosinhos tem vindo a diminuir, mas as vendas na de Peniche tem vindo a aumentar, devido à venda de peixe mais nobre. Entre 2013 e 2015 Sesimbra captou mais quantidade de pescado, mas foi Peniche quem mais lucrou, embora tenha captado menos quantidade de pescado. Na lota de Sesimbra entre 2012 e 2016, a cavala foi o peixe mais capturado, mas o pescado que mais lucro deu foi o peixe-espada preto.
Analisou o quadro referente às “Licenças do PNA – Pescas” entre 2006 e 2014 e chegou à conclusão que tem vindo a diminuir os números de embarcações, de licenças, de toneira, de tresmalho, de emalhar, de covos e de palangre.
Existem vários tipos de artes de pescas, que são:
Aparelho – constituída por um conjunto de cabos e linhas, ao longo das quais são fixados os anzóis com isco para atrair os peixes. A pesca é feita com o barco em andamento, a fim de largar o aparelho para o fundo, a partir de um ponto até outro, em linha reta ou enviesado.
No início e no fim da arte são colocadas bóias de sinalização à superfície, atadas ao cabo que leva a caçada para o fundo com o apoio de pedregulhos, de modo a que fique no local pretendido.
Redes – de forma rectangular, largada por uma embarcação em movimento, ela fica suspensa verticalmente devido a bóias no cabo superior, e ao cabo com chumbo, na parte inferior. As redes podem ter alturas diferentes e ficam assentes no fundo com âncoras ou pedras em cada uma das extremidades.
Pesca aos chocos e lulas – é feita com radar e toneira, ou piteira, pequenas peças em chumbo, em formato fusiforme, forradas em plástico ou com linha de algodão. Cada uma tem uma coroa de alfinetes numa extremidade para capturar os cefalópodes e, na ponta oposta, um pequeno orifício para prender a linha, ou “pita”, que se eleva até à mão do pescador, à superfície.
Xávega – Na vila de Sesimbra é conhecida por “artes do Caneiro”, por ter sido tradicionalmente usada na zona da baía com esse nome, cujo fundo arenoso lhe é favorável e permite o arrasto sem que as redes fiquem presas no fundo. Possui um saco de rede, cuja boca se prolonga para um e outro lado, ao longo de extensas mangas ou alares de rede, diminuindo a sua altura para as extremidades cujo comprimento é, em média, de cerca de seis vezes o comprimento total do saco.
Pode assumir duas modalidades: de arrastar para terra, o barco que transporta a rede sai de um local específico na praia, onde fica fixo um dos cabos da rede e, num movimento circular, deixa-a ao largo, trazendo então para terra o outro cabo; ou de arrastar para bordo, as redes são aladas para dentro dos barcos que as levavam para o mar.
Covos – é uma armadilha dirigida essencialmente à captura de polvo, trata-se de um tipo de pesca que ocorre fundamentalmente em zonas rochosas, a profundidades não muito altas. Pode ter vários tamanhos e formas, e tem geralmente um orifício para entrada dos polvos, e uma bolsa que serve para colocar o isco. Os covos são colocados na água presos a um cabo com algumas centenas de metros de comprimento, e estão separados entre si por cerca de dez metros, formando uma caçada. Para além do polvo, apanham diversos peixes e crustáceos com grande valor comercial, nomeadamente navalheiras, lagostins, lagostas, santolas e lavagantes.
Cerco – é um tipo de aparelho para pescar cercando o cardume de peixes; basicamente uma rede de emalhar que possui argolas na linha de fundo, por onde passa um cabo que permite fechar a rede por baixo, formando um saco onde o peixe fica retido. Dirigida essencialmente a pequenos pelágicos, como a sardinha, cavala ou carapau, a arte das cercadoras, ou traineiras, consiste numa pesca em que a rede é largada no mar em forma de cerco, suspensa à superfície por boias e mantidas verticalmente pelo cabo com chumbo, onde também se fixam as argolas através das quais passa outro cabo que, manobrado de bordo, fecha a rede por baixo. Lançada a rede, o bote, pequena embarcação auxiliar, fica com uma das pontas a que está ligado o saco, enquanto a traineira manobra em jeito de fazer o cerco, envolvendo o cardume. Depois de concluído o cerco, a rede é içada para bordo com apoio de um guincho.
Na Lagos de Albufeira, existe a apanha de bivalves e miticultura, que é o cultivo industrial do mexilhão, usualmente com recurso a viveiros flutuantes ancorados em águas costeiras. A manutenção da atividade obriga a uma vigilância atenta do estado da barra de maré e a intervenções de reabertura, a fim de minimizar os impactos económicos. Esta atividade modifica os padrões texturais dos sedimentos de fundo, por adição de partículas biogénicas mais grosseiras, carbonatadas.
Sendo Sesimbra uma vila muito ligada ao mar, a pesca tem um impacto económico no seu Concelho muito grande, assim como na restauração, na hotelaria (principalmente nos meses de verão), no artesanato e nos mercados locais de peixe e peixarias.
A Câmara Municipal de Sesimbra desenvolve ao longo do ano várias atividades e algumas com um grande sucesso, tais como:
- Comemorações do Dia do Pescador – 31 de maio;
- Semana Gastronómica de Peixe-espada Preto (31 de maio a 4 de junho);
- Semana Gastronómica da Cavala e do Carapau;
- Show Cooking e Merchandising;
- Comemorações do Dia Nacional do Mar – 16 de novembro;
- Cabaz do Peixe – tem sido um grande sucesso;
- Sesimbra é Peixe – slogan.
A seguir a esta ilustre apresentação, alguns colegas fizeram algumas perguntas, a que o Sr. Vereador respondeu com toda a sua clareza.
Tirámos uma fotografia de grupo à entrada do Auditório Conde de Ferreira, de seguida dirigimo-nos para o restaurante “Toca do Leão”, onde tivemos como entrada queijo da Azóia, camarão cozido e salada de polvo, comemos o tradicional peixe-espada preto, dourada ou robalo grelhado acompanhado de salada mista, batata, cenoura e legumes cozidos, sobremesa uma variedade de doces e depois um café.
Da parte da tarde fomos visitar o Museu Marítimo de Sesimbra, que está dividido por temáticas. Fomos acompanhados pelo Sr. Henrique Rodrigues, que nos foi explicando o que podíamos ver em cada sala.
Primeiro dirigimo-nos à sala Desde o Princípio, para vermos um filme a 3D. Este filme mostra a formação do território, a presença de dinossauros, a vila no tempo dos romanos, a famosa batalha de 1602 ou a Capela do Espírito Santo e o Hospital Medieval em pleno funcionamento.
De seguida fomos à sala onde existe o Parque Marinho Luiz Saldanha, um aquário interativo e virtual que convida os visitantes a identificarem as espécies marinhas mais representativas, com um leve toque na tela surge um quadro com informação sobre cada espécie.
A Casa do Governador da Fortaleza recebe uma exposição sobre o rei D. Carlos, centrada sobretudo nos seus vastos estudos sobre o mar e sobre as suas campanhas nos mares de Sesimbra.
Na sala a Viagem, estão expostos os primeiros equipamentos de navegação e engenho dos pescadores para se orientarem em mar alto. Também respondem às perguntas, Como viajavam os pescadores, quais os recursos que tinham à sua disposição e até onde iam?
Na Sala da Comunidade, demonstra a ligação estreita entre a pesca e o mar. Apresenta quatro áreas de atividade que foram muito relevantes para a história: pesca desportiva, apanha de algas, marcenaria e indústria conserveira. Está em exposição a famosa cadeira de pesca ao espadarte, um compressor hidráulico de bordo e regulador usado na apanha de algas, o torno de pedal, e, por fim, uma série de peças ligadas à indústria conserveira, que teve enorme relevo na economia local.
Na sala, Memória e Devoção, estão representadas as devoções marinheiras e marítimas, tais como o Senhor Jesus das Chagas, Nossa Senhora do Cabo e Nossa Senhora da Boa Viagem, ofertas que eram dedicadas a um santo como agradecimento de um milagre, normalmente associado a um salvamento, ou a boas pescarias.
A sala da Arte dá a conhecer as várias artes de pesca, tanto de redes como de anzol, a arte de excelência em Sesimbra. Uma aiola em construção, em tamanho real, assim como textos, fotografias e vídeos de grande relevância documental. As principais artes de pesca praticadas em Sesimbra ao longo dos tempos é feita uma abordagem às artes de redes, onde marcam presença a popular “chincha” ou xávega, a sacada e as armações à valenciana e às artes de anzol, que representam a pesca de excelência de Sesimbra, e onde a técnica do palangre, que se continua a usar atualmente, sobretudo na pesca do peixe-espada preto. A pesca desportiva ao espadarte, atividade que teve enorme relevância nos anos 50 e contribuiu para dar a conhecer Sesimbra ao mundo.
Na Sala da Memória, uma mesa iterativa (touch screen) possibilita a consulta de duas bases de dados documentais com registo dos pescadores sesimbrenses desde finais do século XIX, assim como o registo de embarcações sesimbrenses a partir do início do século XX.
Depois de visitarmos estas salas do museu, tiramos uma fotografia do grupo nas escadas da Fortaleza.
Dirigimo-nos para os carros para irmos até ao Zambujal para visitarmos a MECOMAR – Centro de Depuração de bivalves.
O representante desta empresa explicou-nos de forma clara o que faziam aos bivalves que entravam. O mexilhão, a ameijoa, o berbigão, os percebes, os búzios, os canivetes são comprados, onde são catalogados. Sofrem uma primeira lavagem, depois são depositados em tanques (34 com 250 Kg de capacidade) com água sempre corrente para depositarem toda a areia, durante 24 h, depois são escolhidos por tamanho, sacados, embalados com as características do produto e postos à venda.
As intoxicações alimentares devidas à ingestão de moluscos bivalves são relativamente frequentes e podem ser devidas a contaminação por microrganismos patogénicos (bactérias, vírus) que proliferam nas águas costeiras. As fortes descargas de esgotos urbanos e de explorações agropecuárias que transportam continuamente matéria orgânica e, ainda, a baixa salinidade são os principais fatores responsáveis pela proliferação daqueles microrganismos. Outra causa de toxicidade deve-se à presença nos bivalves de biotoxinas provenientes de microalgas tóxicas que são ingeridas no processo de alimentação por filtração.
Também nos explicou que não há tempo limite de reserva para o marisco; que depois de depurado o marisco pode durar até 8 dias, mas tem que estar vivo; deve-se conservar no frigorífico entre 2 a 5º C, mas nunca dentro de água; o mariscador tem que deixar uma fatura com todas as indicações do produto; a análise ao marisco é feito por um laboratório pago por eles; há produto que não aguenta depuração, e as análises às vezes demoram mais tempo que o resultado final, por isso às vezes o marisco é vendido sem se saber os resultados.
Depois destas explicações fomos ver a empresa que estava em funcionamento, onde podemos ver os bivalves nos tanques, os homens a escolher o marisco, a embalagem e o seu armazenamento.
Texto escrito por Odette Pugliese, reportagem fotográfica de Odette Pugliese e Carlos Guerreiro